9 de abr. de 2010

"Amorinópolis"

Estava aqui parada tentando imaginar como o cronista Rubem Braga iniciaria uma crônica sobre o amor. Não consegui, é claro. Muito embora já tenha lido algumas coisas dele a este respeito.

Eu que sempre achei o amor tão lindo, tão fácil de descrever e até de explicar e, principalmente, de viver, de demonstrar... sinto-me agora tão despreparada pra falar sobre este tema.

"Amor" é conteúdo pra músicas, camisetas, poesias, livros, filmes, novelas... É argumento pra crimes, traições, prisões, ciúmes, destruições... É motivação pra riso, alegria, compulsão, fome, pranto... É impulso para exageros e até para omissões.

Em nome do amor vê e ouve-se cada coisa. E eu que imaginava que já o havia experimentado, me pego agora com a incerteza do que já tive e do que ainda desejo ter.

Em defesa do amor, tudo é permitido. Do sofrimento mais exasperante ao ridículo descomedido. Li no orkut de uma amiga que " a busca pelo verdadeiro amor sempre encontra grandes obstáculos". É algo mais ou menos assim. E no atual momento em que vivo, me pergunto: será que pelo amor vale-se realmente toda essa " exposição da figura"?

Recentemente conheci uma senhora que acabou de reencontrar o amor da vida dela. Haviam se passado mais de trinta anos desde a última vez que haviam se visto. O caso é daqueles de filme ou novela. Uma mulher (que era casada e queria o rapaz) fez " fofoca" para a mãe da moça que não quis o namoro. A moça foi obediente à mãe, rejeitou ao rapaz. O moço, decepcionado, foi embora da cidade prometendo nunca mais voltar. Constituiu familia em outro lugar. Tempos depois ficou sabendo que a jovem havia falecido. Há alguns meses, sentado na porta de casa em Goiânia como de costume, começou a prestar atenção na conversa de uma mulher que falava ao telefone no orelhão perto dele. "_Amorinópolis" ela citou e foi o suficiente pra ele decidir falar-lhe.

" _ A senhora é de Amorinópolis?"
" _ Sou sim."
" _ Conheceu lá a Maria?"
" _ Ihh conheço demais. Ela é vizinha da minha mãe. Passo na frente da casa dela todo dia..."

A esta altura, o coração dele já ía aos " galopes". "Então ela ainda está viva..."

Enquanto D. Maria me contava sua estória eu imaginava como não deve ter sido pra este homem saber que o amor da vida dele ainda estava viva. Ele que, anos antes, fora abandonado pela esposa com filhos pequenos. Ele que soube com tanto pesar e desesperança da morte de D. Maria.

Ela muito satisfeita me contava os pormenores do reencontro. De quando eles se falaram pela primeira vez tantos anos depois de terem se visto. Ela toda amorosa e cheia de planos para a nova vida que iniciou para os dois naquele momento. Ela, agora, com 65 e ele com 70 anos.

É impossível ouvir uma estória como esta e não se empolgar. Em outros tempos eu teria me enchido também de fantasias sobre o amor. Mas fato é que o amor não esta para todos como todos estão para o amor.

Há pouco tempo um homem jovem me falou:" Eu fui agraciado por Deus em meu casamento. Ele cuidou em me presentear com uma esposa e com um relacionamento cujas variáveis eu
sequer imaginária serem necessários". Entendi na hora o que ele disse. E fico muito feliz por ele cuja realização e felicidade me interessam diretamente.

Tantos encontros e, principalmente, desencontros em busca do amor. Me pergunto se devemos esperar por ele. Penso que nem todos deverão ter a sorte de encontrá-lo. Especialmente porque o amor que nos dizem pra procurar, provavelmente, não existe.

Talvez seja aí que Deus entre em cena. Com um amor real e segundo os moldes dele.

Acho mesmo é que sobre este tipo de amor, não tenho nenhum preparo pra falar.
Mas tenho muitas, muitas perguntas a fazer.
Sorte no amor.